domingo, fevereiro 15, 2009

The Sims e a arquitectura

Videojogos e actividade profissional
Por Inês Ramalhete

Sou estudante de Arquitectura e gostava de escrever acerca de como os videojogos se podem interligar com determinada actividade profissional, mais concretamente com a Arquitectura. O videojogo em questão é o The Sims, criado em Fevereiro de 2000 por Will Wright, que se tornou um dos jogos mais vendidos de sempre (já foram vendidas acima das 50 milhões de unidades, o que o coloca como o quinto mais vendido da História)[1].


Habitação colectiva (baseada no complexo habitacional do arquitecto holandês Oud de Weissenhof, 1927)

Will Wright, autor de videojogos como The Sims, Sim City e Spore, é também co-fundador da MAXIS. Apesar de actualmente ser designer de jogos, inicialmente enveredou nos meandros da Arquitectura. O videojogo reflecte esta mesma vertente, através das ferramentas de construção, dos seus elementos (como os vãos), dos próprios materiais e da própria manipulação dos planos (ao nível construtivo, o seu funcionamento e através de planos e não de volumetrias). Temos uma enorme liberdade no processo criativo dos vários edifícios possíveis (habitação, comércio e espaços verdes), mas também na organização do nosso próprio bairro, estabelecendo aqui uma relação com o urbanismo e aproximando-se de Sim City. A outra questão de The Sims é a criação de uma rede social complexa, semelhante à realidade, onde existem as várias faixas etárias e as respectivas relações (recém-nascido, criança 3 anos, criança 10 anos, adolescente, adulto e idoso), onde o jogador pode experimentar vários tipos de interacção entre as personagens. O jogador pode ainda criar histórias, fazer filmagens e tirar fotografias durante o jogo que podem então ser publicadas em vários sites dedicados ao jogo.

Relativamente à Arquitectura, este videojogo tem-me sido bastante útil no sentido de fazer experimentações ao nível da organização dos espaços interiores e das próprias volumetrias dos edifícios. A escala humana proporcionada pelas próprias personagens de várias fisionomias permite-me controlar a própria arquitectura dos vários lugares, quer seja espaço público ou privado. Utilizo o jogo quase como uma ferramenta de trabalho e experimentação que depois, consciente ou inconscientemente, acabo por incorporar nos meus próprios trabalhos académicos. Obviamente que The Sims é limitativo, no sentido de que a construção é toda ela baseada em quadrados e rectângulos, não permitindo portanto superfícies curvilíneas, embora seja útil para uma primeira abordagem. Como estudante de Arquitectura, a vertente construtiva do jogo interessa-me mais relativamente à jogabilidade em si, passando mais tempo a construir do que propriamente a criar famílias e a desenvolve-las.

É um jogo que comecei a jogar aquando o aparecimento da primeira versão em 2000 e certamente, enquanto me for possível, vou continuar a joga-lo na ideia de ser uma ferramenta experimental.

[1] http://www.vgchartz.com/

2 comentários:

Anónimo disse...

Pessoalmente acho muito importante existirem artigos como este, de arquitectos(as) a falarem da importância do The Sims para eles, pois é a confirmação do marco que, sem dúvida, este novo estilo de jogo veio trazer, não só pra industria de jogos mas também pra os aspirantes a arquitectos, e principalmente para estes. Da minha experiência própria, lembro-me de muitas vezes jogar o Sims só com o propósito de construir novas casas, experimentar novas formas arquitectónicas, chegando mesmo aos limites do jogo a certo ponto. Na altura também tinha o vício de andar pelos sites de fans do jogo, onde era fácil encontrar imensos objectos novos, feitos por várias pessoas, e dai estilos particulares de mobília e vários objectos de decoração(No Sims 1 a perspectiva do jogo era uma só, por isso era fácil fazer-se novos objectos, justificava-se porque o jogo era muito limitado a nível de objectos, quase sempre tinha o mesmo objecto pelo menos 2 vezes na casa). Não sei se aconteceu também à autora, mas aliado às horas de jogo, comecei a ganhar gosto pelo música Jazz(as músicas era quase sempre Jazz), e hoje sou um grande amador deste estilo. :) Desta série(Sims) só joguei o primeiro, infelizmente, mas sem dúvida foi realmente um jogo fantástico, admito que me ajudo-me muito a desenvolver a visão crítica da arquitectura, as preocupações na estruturas, e desenhei muito com a experiência do jogo, só tenho pena de não ter seguido esta área, mas ainda penso em segui-la assim que puder. Pelo artigo dou parabéns à autora, gostei muito, muita sorte nos trabalhos académicos e profissionais, até ao próximo artigo! :)

Anónimo disse...

Concordo plenamente não só com o que a autora aqui exprime, mas também com o que o Marlon comenta e tomo então a liberdade de expandir o tema um pouco mais. Acho óptimo sempre que alguém conota um vídeo jogo como alguma de construtivo (ao invés do velho cliché de associar os vídeo jogos à decadência dos valores da nossa geração). É perfeitamente plausível que o The Sims possa contribuir para a vida académica e profissional de alguém, como descrito no artigo. Porém, o que não falta são exemplos de vídeo jogos que promovem a aprendizagem e a experimentação. Falo de jogos como "My English Coach" para a Nintendo Wii, que ensina o "jogador" a falar e a praticar o inglês através de mini-jogos e afins. Para quem quiser aprender Espanhol, por exemplo, pode também comprar o jogo "My Spanish Coach". Lembro-me de jogos como o "Ace Attorney" que ensina os jogadores Japoneses um pouco sobre o sistema judicial Japonês, ou o "Nintendogs" (também um dos jogos mais vendidos) que incute um sentido de responsabilidade ao jogador (muito à semelhança do antigo "Petz" ou do popular "Tamagotchi"). E quem se pode esquecer da série "Flight Simulator" da Microsoft que desde cedo se tornou num excelente auxílio na aprendizagem dos jovens pilotos. Enfim, são muitos os exemplos de vídeo jogos que podem contribuir de forma extremamente positiva para a vida pessoal e profissional de cada jogador. É tempo de deixar de olhar os vídeo jogos de lado e aceitá-los não só como uma forma de diversão mas também como potencial ferramenta de aprendizagem.