quinta-feira, abril 23, 2009

Londres, cidade à escala mundial

Por Inês Ramalhete

Estive em Londres pela primeira vez e a cidade excedeu as minhas espectactivas. Já estive em Nova Iorque e noutras capitais europeias e posso dizer que Londres é a Nova Iorque europeia, a capital europeia. Conjuga o caracter cosmopolita de Nova Iorque, a mescla de culturas (sem nunca perder o british que, por sua vez, se entranhou nessas mesmas culturas), o poder do Estado mas também da População, vivendo em equilibrio.



Oxford street, uma das principais vias da cidade

Londres tem um glamour muito peculiar e, de certo modo, ainda mantém aquele espirito dos anos 60, dos Beatles, da Liberdade, da Diferença, que tão bem podemos ver na famosa Portobello Road, mas também da Vanguarda e da Tradição com a tão querida família real que os britânicos tanto estimam.

Os londrinos e os emigrantes, cada vez menos emigrantes e mais cidadãos do mundo, vivem num balanço perfeito, totalmente introduzidos na sociedade inglesa. Observei esta situação diversas vezes, quando estava num café ou numa loja multinacional e algumas das empregadas eram mulheres árabes, de véu, que nos atendiam atenciosamente, assim como no próprio aeroporto onde tive a oportunidade de ver homens árabes nas alfândegas e mulheres árabes nos balcões do check-in. Demonstrou que os londrinos aceitam a Diferença e as várias Culturas, contrariamente aos americanos, não hostilizando e aceitando-os. Tive também a oportunidade de ver negros, asiáticos, árabes e brancos fazendo parte de um Todo, onde qualquer tipo de relação é possível e é normal. Fiquei contente com esta perspectiva, a perspectiva de que é possível as pessoas viverem com as diferenças. Portugal é um dos países que aceita os emigrantes de braços abertos, mas não os inclui inteiramente na sociedade, até porque a grande maioria é da classe baixa, sem nunca ter a possibilidade de ascender socialmente, vivendo isolados em guetos, olhados com desconfiança.

Tive a oportunidade de ver duas manifestações na zona do Parlamento – uma pelo genocídio das tropas Tamils no Sri Lanka e outra pelos animais – que decorreram durante toda a semana que lá estive. Implacáveis, insistentes, lutadores. Falei com um português a viver em Londres há 24 anos e disse-me que o Estado tem poder, mas a População tem mais e as manifestações e as greves conseguem causar grande impacto a Downing Street (Tony Blair comprovou isso mesmo quando se aliou a Bush).

A cidade é muito bela, preservando ainda os edificios antigos, os grandes boulevards e os jardins belissimos que os londrinos vivem intensamente. Fiquei perplexa com a monumentalidade do Museu Britânico e do seu espólio que, de uma maneira geral, passa por todas as regiões do mundo, por todas as culturas e onde, em apenas uma visita, vemos o Mundo e toda a sua História! Alguns consideram indecente os ingleses terem grande parte do espólio do Egipto Antigo ou da Grécia Clássica, mas o que eu vi foi um grande respeito e cuidado para com estas peças tão importantes do Passado que tantas pessoas desconhecem. Além do conteúdo, o museu é algo de monumental, totalmente ausente da escala humana, feito à medida dos deuses e dos impérios escondidos no seu interior.

Se o Museu Britânico me fascinou pela sua História, a Tate Modern fascinou-me pela sua Vanguarda e também pela própria arquitectura do edificio (uma antiga central electrica na margem sul do Tamisa transformada em museu). A Tate Modern é o símbolo da Modernidade, da Liberdade, dos Valores e do Poder do próprio povo tanto ao nível do edificio como ao nível das várias exposições e dos vários temas que podemos ver no seu interior (há uma exposição muito interessante sobre a Revolução Russa e a própria propaganda da União Soviética).

Tive também a oportunidade de ver um musical – o Fantasma da Ópera – que é algo de imperdivel. Mas tal como disse no início, só visitei Londres e foi isto que senti e que observei, pois talvez o restante Reino Unido não viva esta realidade. Aconselho vivamente!

terça-feira, abril 07, 2009

Aida de Verdi, no Coliseu dos Recreios, pela mão da Grande Ópera de Kazan

A ópera como um espectáculo monumental que combina todas as Artes
Por Inês Ramalhete

A célebre ópera Aida de Verdi, protagonizada pela Grande Ópera de Kazan, Rússia, esteve no Coliseu dos Recreios no início de Abril. Foi a segunda ópera à qual assisti (a primeira, Nabucodonosor, foi também no Coliseu e também de Verdi) e fiquei bem mais fascinada do que da primeira vez! São duas obras-primas, embora Aida me tenha tocado mais a todos os níveis.
Esta obra foi encomendada a Verdi pelo Governo Egípcio com o intuito de comemorar a abertura do canal Suez, com estreia a 24 de Dezembro de 1871. A narrativa passa-se na época do Império Egípcio e conta a história de amor entre Aida, uma escrava etíope (por sua vez princesa do seu país), e um membro do exército egípcio, Radamés. Radamés, negligenciando o amor da princesa egípcia e acusado de traição à pátria, é encarcerado vivo num túmulo, ao qual se junta Aida para a eternidade. A ópera é composta por quatro actos e brilhantemente protagonizada pelos cantores líricos da Grande Ópera de Kazan, na sua maioria de origem russa.
Os cenários exóticos das margens do Nilo foram muito bem conseguidos e dão um ambiente mágico a toda a narrativa, com planos de tal modo bem conseguidos que dão uma enorme sensação de profundidade e monumentalidade, que tão bem caracteriza a arquitectura egípcia da época imperial. Além da beleza extrema do cenário, o vestuário é realmente fantástico e apela ao Belo, ao Místico e à ostentação, deixando o espectador deslumbrado. Mas o que realmente é inexplicável e Belo é o poder da música da orquestra e das vozes dos cantores líricos que tão bem protagonizaram e deram vida a uma narrativa aparentemente banal! Vozes sonantes, tão sonantes quanto os instrumentos musicais, de tal modo adequadas ao ambiente que tanto comove como alegram quem está a assistir, que tão bem transmitem as várias sensações e episódios que se vão desenvolvendo, até ao desenlace em que Aida e Radamés ficam por fim juntos com um misto de dramatismo e felicidade. A música é de tal modo lindíssima que quase entramos num transe, perfeitamente combinada com os actores e com os vários episódios da peça.
A Ópera é algo de inexplicável, as sensações e o ambiente é difícil de transmitir e comunicar ou demonstrar, é realmente necessário uma pessoa ir e guardar para si a experiência. A primeira vez que vi uma ópera, com Nabucodonosor estava reticente, tal como todas as pessoas estão em relação a um espectáculo de tamanha envergadura, mas não me arrependi e repetir a experiência que, por sua vez, ainda me fez achá-la mais fantástica.
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