Por Inês Ramalhete
A célebre ópera Aida de Verdi, protagonizada pela Grande Ópera de Kazan, Rússia, esteve no Coliseu dos Recreios no início de Abril. Foi a segunda ópera à qual assisti (a primeira, Nabucodonosor, foi também no Coliseu e também de Verdi) e fiquei bem mais fascinada do que da primeira vez! São duas obras-primas, embora Aida me tenha tocado mais a todos os níveis.
Esta obra foi encomendada a Verdi pelo Governo Egípcio com o intuito de comemorar a abertura do canal Suez, com estreia a 24 de Dezembro de 1871. A narrativa passa-se na época do Império Egípcio e conta a história de amor entre Aida, uma escrava etíope (por sua vez princesa do seu país), e um membro do exército egípcio, Radamés. Radamés, negligenciando o amor da princesa egípcia e acusado de traição à pátria, é encarcerado vivo num túmulo, ao qual se junta Aida para a eternidade. A ópera é composta por quatro actos e brilhantemente protagonizada pelos cantores líricos da Grande Ópera de Kazan, na sua maioria de origem russa.
Os cenários exóticos das margens do Nilo foram muito bem conseguidos e dão um ambiente mágico a toda a narrativa, com planos de tal modo bem conseguidos que dão uma enorme sensação de profundidade e monumentalidade, que tão bem caracteriza a arquitectura egípcia da época imperial. Além da beleza extrema do cenário, o vestuário é realmente fantástico e apela ao Belo, ao Místico e à ostentação, deixando o espectador deslumbrado. Mas o que realmente é inexplicável e Belo é o poder da música da orquestra e das vozes dos cantores líricos que tão bem protagonizaram e deram vida a uma narrativa aparentemente banal! Vozes sonantes, tão sonantes quanto os instrumentos musicais, de tal modo adequadas ao ambiente que tanto comove como alegram quem está a assistir, que tão bem transmitem as várias sensações e episódios que se vão desenvolvendo, até ao desenlace em que Aida e Radamés ficam por fim juntos com um misto de dramatismo e felicidade. A música é de tal modo lindíssima que quase entramos num transe, perfeitamente combinada com os actores e com os vários episódios da peça.
A Ópera é algo de inexplicável, as sensações e o ambiente é difícil de transmitir e comunicar ou demonstrar, é realmente necessário uma pessoa ir e guardar para si a experiência. A primeira vez que vi uma ópera, com Nabucodonosor estava reticente, tal como todas as pessoas estão em relação a um espectáculo de tamanha envergadura, mas não me arrependi e repetir a experiência que, por sua vez, ainda me fez achá-la mais fantástica.
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