domingo, março 29, 2009

MAD-international project

Alguém acordava, punha o cigarro à boca e perguntava – onde está a cerveja?

Nestas últimas duas semanas estive fora, em Antuérpia, na Bélgica, num projecto académico - MAD-ip, financiado pela EU – no qual participaram 6 países, a Polónia, as duas Bélgicas (Sul e Norte), a Áustria, a Finlândia e Portugal. A Faculdade Artesis foi o centro deste projecto.


O Projecto pretendia reunir várias culturas para se integrarem num estudo intensivo na área das plataformas móveis, mais concretamente desenvolver conteúdos em programação Java (Sun M.). A língua inglesa foi a base comunicativa para todos os participantes. Foi feita uma divisão por grupos (antecipadamente cada aluno teve que escolher uma plataforma), nos quais estava um aluno por país. Na primeira semana desenvolvemos um jogo para telemóvel e na segunda tivemos que fazer pesquisa sobre a respectiva plataforma.

No meio disto tudo, tivemos a oportunidade para passear, conhecer os melhores Pub’s do mundo e fazer grandes amizades. Ainda tivemos tempo para ir um dia andar de bicicleta por Amesterdão e um dia, mais cultural, para passear a Bruges. As idas habituais a Pub’s tornaram-se quase culturais e a estadia no Hotel, na zona mais multicultural da cidade, foi o centro da maioria dos acontecimentos, foi mais escola que a própria Universidade Artesis. Dormimos lá por acaso.

Como tudo, a viagem, a grande festa, teve que acabar. Alguém disse, num dos dias, que os portugueses eram os mais alegres e motivadores. Talvez tenha sido por isso que os grupos se reuniam à nossa volta. De volta a Portugal, sinto-me ainda menos português que gosta mais de Portugal.

quinta-feira, março 12, 2009

PAUL AUSTER - LISBOA REVISITADA

Paul Auster é um reconhecido escritor norte-americano, um escritor que de vez em quando faz filmes. Lisboa tem sido um local especial para este autor que nasceu em Newark, em 1947.
Numa das últimas estadias em Portugal, respondeu a umas questões[1] pertinentes referentes ao seu Livro “A noite do Oráculo”:

Onde se podem comprar em Portugal os célebres cadernos portugueses? À qual respondeu: Se souberem, digam-me!

Leu Fernando Pessoa? Auster responde dizendo que o considera um dos mais estimulantes poetas que conhece.
“A noite do Oráculo” o caderno azul

No seu romance "A noite do Oráculo" há várias referências a Portugal. Sidney compra um caderno azul fabricado em Portugal. Traça no caderno a história de um editor que tem na sua mesa de trabalho uma outra história: A Noite do Oráculo. A meio do livro, a personagem do escritor Sidney diz: "Pessoa é um dos meus escritores preferidos. Deitaram abaixo Salazar e agora têm um governo decente. E Portugal ajudou milhares de judeus a fugirem da Europa durante a guerra. É um país bestial."

Porque é que o caderno é feito em Portugal[2]?
Não consigo dizê-lo. (...) Achei Lisboa uma cidade extremamente interessante, gostei de passear por Alfama e, se calhar, foi por isso que me lembrei de Portugal. Talvez tenha sido por causa do meu desejo de voltar.


Lisbon Story

No princípio de 90 eu ia escrever um filme para W. Wenders sobre Lisboa e fiz muita pesquisa. Então vim cá, e um jovem historiador passou três ou quatro dias comigo. (…) Ele mostrou-me tudo. Foi fascinante. Esta cidade não é como as outras capitais europeias.

Foi em 1992 que Paul Auster conheceu Paulo Branco, produtor português, por intermédio do aclamado realizador Wim Wenders. Branco desafiou ambos para prepararem um filme baseado em Lisboa, em vésperas de Lisboa – Capital Europeia da Cultura 1994. E assim nasceu “Lisbon Story”.

Em 2008, Paul Auster apresentou um argumento a Branco e decidira avançar com o filme “A vida interior de Martin Frost”. As filmagens ocorreram em Portugal.
Paul Auster confessou que quanto mais tempo aqui passa, mais gosta do nosso país. Se eu fizer outro filme, adorava voltar a fazê-lo aqui[3]
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[1] Leonel Vicente, autor do espaço virtual http://memoriavirtual.net/2005/05/cultura-artes-e-letras/a-conversa-com-paul-auster-v/, em À conversa com Paul Auster, relata como foi a visita do autor à Culturgest, em 2005.
[2] Alexandra Lucas Coelho entrevistou Paul Auster para o jornal Público em 2005. Excerto da conversa em: http://portugal-mundo.blogspot.com/2008/11/noite-do-orculo-de-paul-auster-2004.html
[3] Entrevista numa sessão de autógrafos em Lisboa, 2007. Comentou ao Diário de Notícias sobre a possibilidade de realizar uma segunda metragem em Portugal. http://diario.iol.pt/noticia.html?id=862066&div_id=4071

quinta-feira, março 05, 2009

A SATURAÇÃO NO MERCADO DOS JOGOS

Actualmente a indústria dos videojogos encontra-se saturada. Isto é, as empresas criam jogos a pensar em futuras sequelas dos mesmos. Estas sequelas quebram o espaço para o surgimento de novas ideias, novos jogos. Pensam também no multiplataforma, ampliando assim os canais de distribuição.

O mercado divide-se em jogos hardcore e jogos casuais. Os primeiros são jogos feitos para aqueles que jogam mais de 4 horas por dia e que se entregam às potencialidades do jogo; os segundos são jogos para um público menos exigente e que raramente joga. Vê no jogo uma forma rápida de entretenimento.
Os consumidores globais tendem a consumir mais os jogos casuais em detrimento dos jogos que contenham mais profundidade narrativa e que exigem mais do seu tempo.

Quem constitui este segmento é habitualmente o público feminino. Para este segmento surgiram jogos como Sims, Buz, Zuma, entre outros, que deram força ao mercado. Pensou-se que este género de jogos (com temáticas não violentas e com base na simplicidade) levaria este segmento a jogar outros géneros, mas não é verdade. O mercado encontra-se actualmente saturado de jogos feitos casuais.

Culpa: consumidores ou produtores?

No início a clivagem entre jogos era maior. Com o surgimento de novas consolas, a diferença de grafismo e jogabilidade tornou-se considerável. Nesta altura, anos 80 e inícios de 90, a Atari e a Nintendo eram as empresas mãe desta indústria. As empresas tinham enquanto público-alvo as crianças (o videojogo Mário é um exemplo máximo de sucesso entre este público).
Após uma crise na indústria nos finais de 80, as empresas de videojogos começaram, uma década depois, a copiar o processo de produção do cinema. A indústria explode e o consumidor torna-se mais adulto.

Por conseguinte, as empresas, tendo em vista o lucro, apostam no segmento dos jogadores casuais, os quais não garantem a estabilidade e a normal evolução da indústria para um novo patamar. São poucos os estúdios que desenvolvem jogos a pensar num público exigente, pois este público é cada vez menor e insatisfeito.

domingo, março 01, 2009

Os Maias no Trindade – episódios da vida romântica

Será que a sociedade portuguesa estancou no século XIX?
Por Inês Ramalhete

O romance Os Maias, escrito por Eça de Queiroz no segundo quartel do século XIX, está novamente em cena no lendário Trindade, depois de se ter estreado neste mesmo teatro em 1888. Aparentemente uma peça teatral banal relatando este episódio da vida romântica, tal não foi o meu espanto quando vi algo de novo incorporado numa peça à priori tradicional, com cenários, vestuário e diálogos de época.


Imagem retirada do site http://teatrotrindade.inatel.pt/osmaias.html

A peça começa por apresentar Carlos da Maia e o inseparável João da Ega a assistirem no próprio Trindade em 1875 uma peça sobre amores e desamores numa casa denominada de Ramalhete – logo aí temos os Maias a ver os Maias no grande teatro da alta sociedade. A história é então contada por João da Ega, o qual encarna ou reflecte Eça de Queiroz como narrador, como crítico, como sátiro, como conhecer daquele destino dramático do jovem casal. Estas passagens em que o narrador relata o que acontece, fazendo ele parte dessa mesma cena, e a própria acção da cena são brilhantes e conseguidas através dos efeitos de luz e das movimentações dos próprios actores (a equipa de produção fez aqui um trabalho excelente e quase cinematográfico!).

Outra questão que achei de louvar e bastante bonita é a relação estabelecida entre esta peça e a música. Um dos actores é um pianista que vai tocando num piano colocado no palco, consoante o momento. Numa destas cenas acontece um momento interessante quando Carlos tem uma conversa com a suposta personagem do pianista e este lhe responde através da música, expressando da forma mais simples e clara as suas respostas – é de louvar como a música consegue comunicar ideias, transformando-se realmente numa linguagem perceptível a todos!

A contemporaneidade de Eça

Mais importante que estes pormenores técnicos, estéticos e narrativos, está o facto de ao longo da peça serem enunciados problemas, críticas e caricaturas a uma sociedade que, apesar de a história acontecer em 1875, são todos eles adequados à actualidade. Fala-se de uma crise económica eminente, de um Portugal à beira do colapso económico, onde os empréstimos bancários e as cobranças de dívidas são tão importantes quanto os impostos. Alencar, uma das personagens caracterizadas pela sua revolta perante uma sociedade adormecida e sem princípios, chega a criticar a juventude e a sua falta de valores e, inclusivamente, a sua apatia e conformidade em relação à sociedade, alegando inclusivamente que no seu tempo é que se lutava pelos objectivos, vivia-se com garra, com ânimo, com paixão. Outra questão importante é a luta das mulheres pela igualdade, patente aqui na personagem de Maria Eduarda ao falar das quão as mulheres são martirizadas e culpabilizadas por actos do seu Passado quando nos Homens essa questão é secundária.

Como pude ver nestes três pequenos exemplos, várias questões sociais e preconceitos estão ainda em aberto na nossa sociedade dita moderna. Eça de Queiroz sabia do que escrevia, só não sabia que 120 anos depois, as suas preocupações, críticas e receios se mantinham como se Portugal tivesse parado no século XIX.

Link de interesse:
http://teatrotrindade.inatel.pt/